ÁGUAS INCERTAS: ENTRE CLIMAS FAVORÁVEIS E POLÍTICAS DE PREÇO DESAFIADORAS

ÁGUAS INCERTAS: ENTRE CLIMAS FAVORÁVEIS E POLÍTICAS DE PREÇO DESAFIADORAS

Em uma semana abreviada pelo feriado de Páscoa, o mercado futuro de açúcar em NY fechou a quinta-feira com o contrato para vencimento em maio/2024 cotado a 22.51 centavos de dólar por libra-peso. É importante destacar que as opções para este contrato expiram em duas semanas. Contudo, espera-se que não causem maior tensão no mercado, considerando que as posições em aberto nos preços de exercício mais próximos ao nível atual do mercado não indicam maiores preocupações.

A semana registrou um acréscimo significativo para o contrato de maio/2024, com um avanço de 65 pontos, equivalente a um aumento de mais de 14 dólares por tonelada. O spread entre maio e julho viu uma valorização de 12 pontos, refletindo a ansiedade dos participantes do mercado com a possibilidade de atraso no início da safra devido às chuvas nas áreas de cultivo. Embora um atraso na safra tenda a fortalecer o spread, as precipitações são vistas de maneira positiva para o desenvolvimento dos canaviais.

O mercado tem operado dentro de uma faixa de preços monótona, com as oscilações provocadas principalmente por transações alavancadas por algoritmos e robôs de sistemas de negociação computadorizados. Esses sistemas são alimentados por uma variedade de narrativas que tentam justificar movimentos de preços, muitas vezes, sem fundamentação sólida. Apesar dessas flutuações, o mercado mantém sua trajetória.

Com a regularidade das chuvas e um clima sem grandes alterações, parece improvável que o mercado futuro de açúcar em NY ultrapasse a barreira dos 23 a 24 centavos de dólar por libra-peso. No entanto, existe um suporte mais robusto nos patamares de 20 a 21 centavos de dólar por libra-peso. Esse suporte é influenciado principalmente pelos custos de produção em países concorrentes do Brasil, como a Índia, onde estimamos o custo de produção em 20.50 centavos de dólar por libra-peso, e a Tailândia, com custos ligeiramente inferiores.

Para as usinas, seria vital um mercado de etanol robusto no segundo semestre. No entanto, o cenário energético atual não oferece muitas esperanças, apesar de um leve sopro de recuperação de 8% observado em março. O verdadeiro obstáculo é a política de preços da gasolina, desastrosamente gerenciada pelo governo, que criou uma defasagem insustentável. Com a popularidade do presidente Lula em queda livre, exacerbada por suas frequentes declarações impensadas, a possibilidade de a Petrobras ajustar a gritante discrepância de 18% entre o preço internacional e o praticado nas refinarias parece mais uma ilusão do que uma expectativa realista.

Os fatores que inibem qualquer potencial de alta no mercado de açúcar incluem: a) uma safra de cana no Centro-Sul que, contra as expectativas, promete ser mais promissora do que se previa, podendo não sofrer a antecipada queda de 8-9% nas estimativas iniciais; b) o mercado de petróleo demonstrando um carrego negativo superior a 10% ao ano, sinalizando uma ausência de preocupação quanto a eventuais crises de desabastecimento; c) o setor de milho internacional, que enfrenta uma desvalorização de 9% no acumulado do ano e de 27% nos últimos doze meses, aumentando a pressão para a exportação de etanol norte-americano e um aumento na produção brasileira do hidratado; d) a possibilidade de um incremento nas exportações de açúcar indiano pós-eleições em maio, esperando-se um início em agosto de 2024 – desafio lançado para um jantar em São Paulo aos três primeiros que se pronunciarem; e) a potencial entrada de fundos vendendo no mercado; f) a contenção dos preços da gasolina pelo governo.

Por outro lado, os possíveis aceleradores de uma valorização no preço incluem: a) um clima que decide virar as costas para os canaviais, preferindo a dramaturgia de impiedosas chuvas ou secas; b) o teatro geopolítico que sempre pode surpreender o mercado de petróleo com um novo episódio digno de novela; c) a aparição estelar de um cisne negro, que, para variar, decide chocar o mercado com sua imprevisibilidade; d) um gestor de fundo com excesso de dinheiro em caixa, que, num momento de pura adrenalina financeira, resolve comprar o mercado inteiro…

Mas, deixando o humor de lado, como vocês sabem, a realidade é bem diferente quando colocamos os fundamentos na mesa. E, conforme já cansamos de repetir, apenas a caprichosa natureza tem o poder de reescrever o roteiro do mercado atual.

Mudando um pouco o tom para algo definitivamente mais leve e (por que não?) entusiasmante, tenho o imenso prazer (e um quê de alívio, confesso) de anunciar que finalmente meu livro, “Commodities sem Fronteiras – 10 Anos de Comentários, Estratégias e Sátiras de um Especialista”, vai sair do mundo das ideias para habitar as prateleiras físicas! Com um prefácio escrito pelo ilustre e sempre eloquente José Roberto Mendonça de Barros, que provavelmente usou todo seu estoque de palavras bonitas para introduzir o livro, promete ser um evento histórico – ou ao menos memorável para quem gosta de um bom humor misturado com insights econômicos.

A celebração deste monumental (menos, menos) feito literário ocorrerá no dia 18 de abril, uma quinta-feira, na Livraria Martins Fontes, situada na Av. Paulista 509 – São Paulo, das 18 às 21 horas. Traga sua caneta, seu melhor sorriso e prepare-se para uma noite de autógrafos onde, além de rabiscar páginas, vou tentar não derramar café em ninguém. Este livro é o fruto da persistência (e quem sabe um pouco de insistência) de dois queridos amigos do mercado, que além de serem ávidos leitores dos meus textos, se autoproclamaram críticos construtivos (ou destrutivos, dependendo do dia). Eles foram essenciais para que essa ideia saísse do papel, literalmente.

Então, marquem suas agendas, configurem os lembretes, e quem sabe até considerem cancelar aquele compromisso menos importante, porque espero ver todos vocês lá! Vamos celebrar, conversar sobre o futuro das commodities (sem levar tudo tão a sério) e, claro, aproveitar para tirar umas boas risadas. O livro pode ser adquirido também pelo link https://oseulivreiro.com.br/produto/commodities-sem-fronteiras/

O recente mercado global de cacau enfrenta uma crise com demanda em queda e redução de lucros. Problemas de suprimento na África Ocidental, especialmente na Costa do Marfim e Gana, contribuíram para isso, causando um aumento de 140% nos preços em 2024, com uma alta total de 245% em um ano. A situação desencadeou a busca por estratégias de hedge. Questiona-se se os fabricantes brasileiros adotaram políticas de gestão de risco adequadas.

A gestão de risco não é meramente um componente adicional na estrutura operacional de empresas que negociam com commodities; ela é a espinha dorsal da sustentabilidade empresarial a longo prazo. Contudo, é profundamente alarmante observar sua recorrente e sistemática negligência. Tal descaso não somente coloca em xeque a viabilidade financeira dessas entidades, mas também sublinha a urgente necessidade de reavaliação e fortalecimento das estratégias de mitigação de riscos, garantindo assim a continuidade e a estabilidade no turbulento e imprevisível mercado de commodities. Como podem ver, não são apenas algumas usinas de açúcar que sofrem desse mal.

Bom descanso e uma excelente Páscoa a todos vocês

Arnaldo Luiz Corrêa

 

In a week made shorter by the Easter holiday, the sugar futures market in New York closed out Thursday with the contract maturing in May/2024 at 22.51 cents per pound. It is important to point out that the options for this contract expire in two weeks. However, they are not expected to cause great tension on the market, considering that the open positions at the exercise prices closest to the current level of the market do not point to major concerns.

The week registered a meaningful increase for May/2024, with a 65-point advancement equivalent to an increase of more than 14 dollars per ton. The spread between May and July appreciated 12 points reflecting the anxiety of the market players over the possibility of a delay in the start of the crop due to the rains in the crop-growing areas. Though a delay in the crop tends to strengthen the spread, the rainfalls are seen as being positive for the development of the sugarcane fields.  

The market has been operating within a boring price range, with fluctuations caused mainly by transactions triggered by algorithms and computerized trading systems robots. These systems are fed by a variety of narratives that try to explain price movements many times without solid grounding. Despite these fluctuations, the market has kept its trajectory.

With the rainfall regularity and a climate without great changes, it seems unlikely that the sugar futures market in New York will go over the barrier of 23 and 24 cents per pound. However, there is a stronger support on the levels from 20 to 21 cents per pound. This support is especially influenced by production costs in Brazil’s competitor countries, such as India, where we foresee production cost at 20.50 cents per pound, and Thailand, with slightly lower costs.

A strong ethanol market in the second semester would be vital for the mills. However, the current energy landscape does not offer many hopes, despite a light breath of recovery of 8% seen in March. The true obstacle is the gas price policy, disastrously managed by the government, which has created an unbearable gap. With President Lula’s popularity in free fall, exacerbated by his frequent thoughtless statements, the possibility Petrobras will adjust the whopping discrepancy of 18% between the international price and the one practiced in the refineries seems more like an illusion than a realistic expectation.

The factors that hinder any potential for a high on the sugar market include: a) a sugarcane crop in the Center-South that, against the expectations, is set to be more promising than what was forecast, maybe not going through the projected drop of 8-9% in the early estimates; b) the oil market showing a negative carry higher than 10% per year, pointing to an absence of concern over possible shortage crises; c) the foreign corn sector, which is facing a 9% devaluation in the yearly accumulated and a 27% one over the last twelve months, increasing the pressure on North-American ethanol export and an increase in Brazilian hydrous production; d) the possibility of an increase in sugar Indian exports after the elections in May, a start expected in August/2024 – a challenge launched at a dinner in São Paulo to the first three that speak out; e) the possibility of funds starting to sell on the market; f) the gas price suppression by the government.

On the other hand, the possible accelerators of a price appreciation include: a) a climate that decides to turn its back on the sugarcane fields, preferring the drama of ruthless rains or droughts; b) the geopolitical theater that can always surprise the oil market with a new soap opera-like episode; c) the stellar emergence of a black swan which, for a change, decides to shock the market with its unpredictability; d) a fund manager with too much cash on hand who, at a moment of pure financial adrenaline, decides to buy the whole market…

But all joking aside, as you know, reality is pretty different when we put all the fundamentals on the table. And, based on what we have said over and over again, only the whimsical nature has the power to rewrite the script of the current market.

The recent global cocoa market faces a crisis with downward demand and profit reduction. Supply problems in Western Africa, especially in the Ivory Coast and Ghana, have contributed to that, causing an increase of 140% in prices in 2024, with a total high of 245% in a year. The situation has triggered the search for hedge strategies. The question is whether or not the Brazilian manufacturers have adopted adequate policies of risk management.

Risk management is not merely an additional component within the operational structure of companies that trade in commodities; it is the backbone of the entrepreneurial sustainability over the long term. However, it’s deeply alarming to see its recurrent and systematic negligence. Such disregard not only jeopardizes the financial viability of these entities, but it also underlines the urgent need to reevaluate and strengthen risk mitigation strategies, that way assuring the continuity and stability in the turbulent and unpredictable market of commodities. As you can see, this problem does not just hit some mills.

You all get some good rest and have a great Easter.

 

Arnaldo Luiz Corrêa

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