Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir
as inteligências jovens e preparar os homens do futuro.”
Dom Pedro II (1825-1891)
Imperador do Brasil
A semana foi encurtada pelo feriado nacional nos Estados Unidos (Memorial Day), na segunda-feira. O mercado futuro de açúcar em NY praticamente ficou inalterado em relação à semana anterior. O vencimento julho/20 encerrou a 10.93 centavos de dólar por libra-peso mesmo nível da sexta-feira passada. Já os vencimentos mais longos, provavelmente refletindo a movimentação de fixação por parte dos operadores (usinas?), fechou mais fraco em até 6 dólares por tonelada na semana.
O real surpreendeu e a despeito do clima político pesado encerrou a semana cotado a R$ 5,33 valorizando-se quase 4% em relação à moeda americana.
A tensão entre os EUA e a China deixa o mercado inquieto com enorme efeito negativo nos ativos de risco, em especial os de energia e as softs commodities. O presidente Trump pegou pesado na sexta-feira acusando a China de vários delitos como espionagem industrial e violações de liberdade, como também de “terem roubado os EUA como ninguém havia feito antes”.
O tamanho dessa encrenca nós veremos na semana que vem já que os mercados estavam encerrados quando Trump falou com a imprensa. Para o Brasil, resta torcer para que o nosso inábil Ministro das Relações Exteriores não embarque nessa toada se envolvendo em briga de cachorro grande. A China deve retaliar os EUA de volta afetando enormemente muitas empresas americanas que dependem de fornecimento de partes e peças fabricadas naquele país.
Ainda há muitas dúvidas em relação à extensão que a pandemia causou e ainda deve causar na economia brasileira. As projeções iniciais de uma retração do PIB de 5.5% vão sendo alteradas a cada nova semana e alguns bancos já trabalham com uma contração da economia em torno dos 7%, com viés de baixa. Devem pesar nessa percepção do recrudescimento da queda a piora do quadro político nacional fazendo com que o investidor estrangeiro olhe o País com muita cautela, por insegurança jurídica, que afeta câmbio, aumenta o spread de risco, enxuga o crédito e empurra mais adiante uma eventual retomada da economia. Ou seja, não é apenas a pandemia a protagonista dessa situação de crise, mas a inabilidade política dos nossos governantes.
O volume de açúcar que o Brasil vai exportar nesta safra 2020/2021 (período compreendido entre maio de 2020 até abril de 2021) tem sido um dos assuntos mais comentados entre os operadores de mercado. Já ouvimos números bem robustos acima de 30 milhões de toneladas. Não se pode ficar alheio a essas afirmações, mas a questão é a seguinte: será possível?
Bem, existe uma diferença entre o que é possível e o que é provável. Possível é aquilo que pode acontecer, pois afinal o Brasil possui capacidade logística para escoar essa quantidade de açúcar e também pode produzir açúcar suficiente para atingir esse volume. Resumindo, é possível. Mas, será provável? Provável é aquilo que certamente vai acontecer.
Nos últimos doze meses o Brasil exportou 19.3 milhões de toneladas de açúcar. Para atingir as 30 milhões de toneladas que alguns traders apostam (apostam mesmo!! Jantares, caixas de vinho, etc) teríamos que crescer 10.3 milhões de toneladas de açúcar em doze meses.
Quando conseguimos aumentar as exportações nesse volume em apenas doze meses? Nunca. O máximo que conseguimos incrementar num período de doze meses foi 7.2 milhões de toneladas há quase sete anos. Esqueçamos os números absolutos e vamos para os números relativos. Estamos falando de um aumento percentual de 55%. Nesse caso já houve precedente. Em 2001 as exportações brasileiras (dezembro 2001 x dezembro 2000) cresceram 71%, embora com apenas 4.5 milhões de toneladas de diferença.
Alguns podem achar que o argumento é fraco, ou seja, acreditam numa exportação de 30 milhões de toneladas e ponto final, pois nada impede que as grandes tradings simplesmente façam entregas robustas no vencimento dos contratos futuros de julho e outubro e coloquem para fora todo o excedente a ser produzido. Possível? Sim. Provável? Não.
Qual o recorde de exportação de açúcar pelo Brasil? 29.78 milhões de toneladas em outubro de 2017. É razoável assumir que vamos exportar 30 milhões de toneladas no meio de uma crise mundial com retração do consumo, encolhimento da economia global, queda da renda entre outros fatores? Façam suas apostas. Eu já fiz a minha.
A sétima estimativa da Archer Consulting do volume de fixação de preços dos contratos de exportação das usinas para a safra 2020/2021, até 30 de abril de 2020, revela que 19,2 milhões de toneladas já estavam fixadas. Como revisamos a estimativa de exportação brasileira de açúcar para a safra 2020/2021 para 23,5 milhões de toneladas, podemos dizer que 81.7% do volume estimado de exportação já está precificado, o maior percentual dos últimos cinco anos.
O valor médio das fixações é de 13,11 centavos de dólar por libra-peso ou 56,47 centavos de real por libra-peso (ambos sem pol), equivalente a R$ 1,297 por tonelada FOB Santos (com pol). O dólar médio de abril/20 refletindo a pandemia, a recessão mundial e a crise política provocada pelo governo Bolsonaro, subiu para R$ 5,3270, 8.8% acima da média de março. O preço médio do fechamento de NY em abril foi de 10.05 centavos de dólar por libra-peso, 175 pontos abaixo da média de fevereiro, uma queda expressiva de quase 39 dólares por tonelada no mês
O que ainda nos reserva o ano de 2020 pode começar a aparecer a partir da próxima semana. Qual será a reação chinesa às palavras fortes de Trump é a expectativa de todos os analistas de mercado. Enquanto isso, segundo a imprensa britânica, aumenta a tensão nas fronteiras da Índia com a China, inclusive com movimentação de tropas.
Enquanto isso, no Brasil, de maneira lamentável, vemos o País mergulhado em picuinhas e assuntos menores, sem planejamento, sem reformas, sem perspectiva. Apenas um presidente sem o menor traquejo para a democracia, sem habilidade para a negociação, focado em proteger o seu entorno. Estamos todos a bordo do Titanic, rumando em direção ao iceberg, tendo no comando um Napoleão de hospício. É possível dar certo? É. Mas é provável? Certamente não.
Um bom final de semana a todos.
Arnaldo Luiz Corrêa
I know of no other bigger and nobler mission than leading
the young intelligence and preparing the men of the future.”
The week was made shorter due to the national holiday in the United States (Memorial Day) on Monday. The sugar futures market in NY stayed pretty much unchanged against the previous week. July/20 closed at 10.93 cents per pound, which was the same level as last Friday’s. Now, the forward contracts, probably reflecting the pricing movement on the part of the traders (mills?), closed weaker by up to 6 dollars per ton in the week.
Surprisingly and despite the tense political situation, the real closed the week at R$5.33, appreciating by almost 4% against the American currency.
The tension between the United States and China makes the market uneasy with huge negative effects on risk assets, especially on energy and soft commodities. President Trump came down hard on China Friday and accused it of various crimes such as industrial espionage and freedom violations as well as “ripped off the United States like no one has ever done before”.
We will just find out how big this mess is next week since the market had already closed when Trump spoke to the press. All Brazil has to do is hope our tactless Foreign Minister won’t jump on this bandwagon and get involved in this fight of giants. China should retaliate against the United States, which will greatly affect many American companies which depend on the supply of parts and pieces made in that country.
There are still a lot of questions regarding the extent of the problems the pandemic has caused and should still cause on the Brazilian economy. The early projections of a 5.5% retraction of the GDP have been changed every week and some banks are already working with an economy contraction of about 7% with a downward bias. The domestic political situation, which causes the foreign investor to look at the country very carefully due to legal uncertainty, which affects the exchange rate, increases the risk spread, mops up the credit and pushes an eventual economic recovery further down the lane, should play a great part in this perception of the resurgence of the fall. That is, the pandemic isn’t the only key player in this crisis situation. There is also the political inability of our leaders.
The volume of sugar Brazil will export this 2020/2021 crop (period running from May/2020 to April/2021) has been one of the subject topics most commented on among the traders. We have already heard of pretty robust numbers – above 30 million tons. We cannot afford to be unaware of these pieces of information, but the point is: will that be possible?
Well, there is a difference between what is possible and what is probable. Possible is everything that can happen because, after all, Brazil has the logistic capacity to market this amount of sugar and it can also produce enough sugar to reach this volume. In short, it’s possible, but is it probable? Probable is something that will certainly happen.
Over the last twelve months, Brazil has exported 19.3 million tons of sugar. In order to reach 30 million tons some traders bet on (they really do!!! Dinners, boxes of wine, and so on) we would have to grow 10.3 million tons of sugar in twelve months.
When have we been able to increase exports at this volume in just twelve months? Never – the maximum we have been able to increase within a period of twelve months was 7.2 million tons almost seven years ago. Let’s forget the absolute numbers and let’s look at the relative numbers. We’re talking about a 55% percent increase. In this case, there have already been precedents. In 2001, Brazilian exports (December/2001 x December/2000) grew by 71%, though with only a 4.5 million-ton difference.
Some might think that this is a weak argument, that is, they believe in export of 30 million tons and that is that, because nothing prevents the great trading companies from just making robust deliveries on the expiration of the futures contracts of July and October and exporting all the produced surplus – is it possible? Yes. Is it probable? No.
What is Brazil’s sugar export record? 29.78 million tons in October/2017. Is it reasonable to assume that we will export 30 million tons in the middle of a world crisis with consumption retraction, world economic downturn, revenue slump among other factors? Make your bets. I’ve already made mine.
The seventh Archer Consulting estimate of the pricing volume of the export contracts of the mills for the 2020/2021 crop up until April 30/2020 reveals that 19.2 million tons had already been fixed. Since we revised the Brazilian sugar export estimate for the 2020/2021 crop to 23.5 million tons, we can say that 81.7% of the estimated export volume is already priced, the greatest percentage of the last five years.
The average value of the fixations is 13.11 cents per pound or 56.47 cents of real per pound (both without pol), equivalent to R$1,297 per FOB Santos ton (with pol). The average dollar for April/20, reflecting the pandemic, the world recession, and the political crisis caused by Bolsonaro’s government, has gone up to R$5.3270, 8.8% above the March average. The average price of NY’s closing in April was 10.50 cents per pound, 175 points below February average, a sharp downturn of almost 39 dollars per ton in the month.
What’s ahead for us in 2020 can start showing as of next week. What the Chinese response to Trump’s harsh words will be is every market analyst’s expectation. Meanwhile, according to the British press, the tension at the borders of India and China is increasing, even with troop movements.
Meanwhile, in Brazil, we, unfortunately, see a country deep in petty and minor issues, without any planning, reforms, perspective. Just a president without the slightest democratic quality, without any negotiation skills, focused on protecting his surroundings. We are all aboard the Titanic, heading toward an iceberg, having a crazy Napoleon in charge. Will that possibly work out? Yes. Will that probably work out? Of course, it won’t.
Have a nice weekend everybody.
Arnaldo Luiz Corrêa