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O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a semana com o contrato para vencimento maio/25 a 18.16 centavos de dólar por libra-peso, com ligeira alta de 25 pontos, equivalentes a US$ 5.50 por tonelada. Os demais meses de negociação fecharam em território positivo, apresentando elevações entre 30 e 45 pontos, entre 7 e 10 dólares por tonelada. O spread maio/julho – quem poderia supor – fechou a zero. Com a demanda fraca no mercado físico, a desaceleração dos negócios e os juros proibitivos, é natural que os operadores se sintam confortáveis em vender seus produtos agora e recomprá-los adiante no mesmo nível de preço, permitindo que o mercado carregue a custo zero. Na próxima semana, haverá a expiração do maio/25 e a expectativa é que ocorra uma entrega volumosa de açúcar.
No Centro-Sul, o clima continua sendo um fator de preocupação. Embora previsões indiquem chuvas moderadas em curto prazo, a irregularidade hídrica já provocou danos em áreas relevantes de produção. As projeções de safra mais recentes apontam para uma moagem entre 580 e 612 milhões de toneladas de cana, com tendência de revisão para patamares mais baixos dentro desse intervalo. Na semana passada, no evento Canaplan em Ribeirão Preto, a estimativa deles coloca a moagem da 2025/26 entre 565 e 575 milhões de toneladas de cana, com a produção de açúcar entre 38.6 e 39.6 milhões de toneladas. Os números refletem a percepção de que a qualidade da cana é pior do que se esperava. A expectativa inicial de um mix mais açucareiro pode ser frustrada caso o ATR médio se deteriore, forçando um redirecionamento maior para o etanol.
No mercado internacional, a demanda por açúcar perdeu fôlego, fenômeno potencializado por consumidores industriais trabalhando da mão para a boca, utilizando os estoques internos. Essa postura reflete um ambiente de insegurança econômica global, alimentado pela instabilidade política associada a Donald Trump. A insegurança sobre o futuro das tarifas, a ameaça de novas guerras comerciais e o consequente receio de recessão têm reduzido os investimentos e desestimulado a formação de estoques estratégicos. Assim, o mercado observa um enfraquecimento progressivo na procura por açúcar FOB, pressionando ainda mais as cotações.
O câmbio brasileiro adiciona uma camada de volatilidade ao cenário. Embora o real tenha apresentado alguma estabilidade recente, o ambiente político e fiscal interno, além do comportamento dos juros norte-americanos, continua a expor a moeda a riscos consideráveis. Na semana, o dólar fechou a R$ 5.6872, desvalorizando cerca de 2% em relação à moeda nacional.
O Brasil quebrou mais um recorde no volume exportado de açúcar ao apurarmos o ano-safra 2024/2025, que contempla os embarques entre abril de 2024 e março de 2025. Foram 35.338.914 toneladas de açúcar exportadas ao preço médio de US$ 471.20 por tonelada. Por outro lado, o embarque acumulado no primeiro trimestre deste ano foi de 5.9 milhões de toneladas de açúcar, 33% menor do que o mesmo período do ano passado.
No segmento de etanol, a situação é ainda mais desafiadora. O volume exportado na safra 2024/2025 despencou 31%, atingindo 1.7 bilhão de litros. O preço médio de venda registrou retração de 5.2%, apurando US$ 578 por metro cúbico.
O comportamento do petróleo é central para entender parte das pressões sobre o mercado de etanol. Caso a economia global desacelere, somada à manutenção de uma oferta elevada, a tendência é de preços do petróleo ainda mais deprimidos no médio prazo. A Petrobras, inclusive, ainda dispõe de margem para realizar cortes no preço da gasolina, o que pode comprimir ainda mais a rentabilidade das usinas que apostam no hidratado.
Os valores do açúcar em Nova York, convertidos em reais e corrigidos pelo IPCA, indicam deterioração ao longo da curva. Ainda bem que as usinas estão bem fixadas para a safra que está iniciando. A Archer Consulting não apura mais as fixações de uma safra depois que elas atingem 80%, mas podemos dizer que as fixações para a safra 2025/2026 seguramente ultrapassaram os 85%. O valor presente dos fechamentos dos meses correspondentes à citada safra é de 2.455 reais por tonelada, abaixo do percentil de 50% que é de 2.522 reais por tonelada. O que isso significa? Que de 2015 até hoje, corrigindo os valores de NY pelo IPCA, 50% desses valores ficou acima de 2.522. Quem não fixou preços nas oportunidades que o mercado deu, tanto nas cotações de NY quanto na desvalorização do câmbio, certamente perdeu uma excelente oportunidade.
A Índia atingiu, em março de 2025, a meta de 20% de mistura de etanol na gasolina — seis anos antes do previsto — e mira agora atingir 30% até 2030. Uma parte do etanol produzido pelo país vem de grãos, o que pode fazer com que a Índia participe do mercado internacional de açúcar no caso de sobra na produção.
O Paquistão apresenta uma situação confortável de estoques, suficientes para cobrir o consumo interno até novembro de 2025, o que reduz sua necessidade de importação a curto prazo. Na Tailândia e no Sudeste Asiático, chuvas periódicas têm sido benéficas para a produção de cana, mas atrasos nas fixações por parte dos exportadores têm gerado quedas pontuais de preços, ampliando a volatilidade no mercado internacional.
As perspectivas de médio prazo dependerão fortemente da evolução do clima no Brasil e na Ásia, do comportamento dos preços do petróleo, das políticas de estímulo ou restrição comercial nos EUA e da capacidade dos agentes de absorver volatilidade sem comprometer suas estruturas financeiras.
Nosso colaborador, Marcelo Moreira, em sua análise técnica, acredita que a grande surpresa ficou por conta do fechamento do spread maio/25 vs. julho/25, que terminou a semana “flat”. O mercado estaria tão bem abastecido no curto prazo a ponto de levar as cotações a voltarem a operar no “carrego”? Na próxima semana, haverá o vencimento do contrato maio/25 e, com ele, uma nova entrega física na bolsa de Nova York. Qual será o tamanho dessa entrega? No curto prazo, maio/25 apresenta suportes importantes em 17.89 e 17.41 centavos de dólar por libra-peso, e resistências em 18.56, 18.84, 19.01 e 20.26 centavos de dólar por libra-peso. No contrato julho/25, as próximas resistências estão em 18.21, 18.58 (nível crítico onde se encontram as médias móveis de 50 e 200 dias) e 19.86 centavos de dólar por libra-peso. Já os suportes se situam em 17.80 e 17.30 centavos de dólar por libra-peso. O indicador estocástico de curto prazo, que mede a velocidade e o momento dos movimentos de preço, ainda aponta espaço para novas altas. Atenção à região dos 18.58 centavos de dólar por libra-peso: um rompimento desse patamar pode abrir caminho para que o julho/25 volte a buscar os 20.00 centavos de dólar por libra-peso.
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No último curso avançado que ministramos no início do mês, um dos alunos fez uma observação que arrancou gargalhadas da turma: “Professor, toda manhã levantam da cama um esperto e um otário. Quando eles se encontram, nasce uma operação de acumulador…” O comentário, além de espirituoso, descreveu com precisão quase cirúrgica o espírito de certas operações estruturadas que aparecem por aí. A classe, é claro, caiu na gargalhada — e alguns, talvez, até riram de nervoso.
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Estão abertas as inscrições para o curso Inteligência e Comercialização de Etanol no Mercado de Combustíveis, que acontecerá presencialmente nos dias 7 e 8 de maio (quarta e quinta), no Hotel Wall Street, em São Paulo. Ministrado por Tarcilo Rodrigues, um dos maiores especialistas do setor, o curso é uma oportunidade única para profissionais que atuam ou desejam atuar com etanol e combustíveis entenderem como funciona a lógica do mercado, os principais players, os mecanismos de precificação, arbitragem, estratégias comerciais e muito mais. Para mais informações e falar diretamente com a nossa equipe, acesse: https://archereducation.com.br/captura-etanol/
Um bom final de semana a todos
Arnaldo Luiz Corrêa
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