[:pt]ENTRE 17 E 18 CENTAVOS, COMO UM PÊNDULO[:]

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Surpreendentemente, o mercado futuro de açúcar em Nova York encerrou a semana com o contrato julho/25 cotado a 17.56 centavos de dólar por libra-peso — uma queda acumulada de 26 pontos, o que equivale a quase 6 dólares a menos por tonelada. Tudo isso mesmo diante de números desanimadores divulgados pela UNICA: moagem no Centro-Sul 33% abaixo do ano passado, produção de açúcar quase 39% menor, mix pouco favorável ao açúcar (culpa da qualidade da cana) e uma produtividade agrícola (TCH) que anda tirando o sono das usinas.

Em um cenário desses, o esperado seria ver o mercado reagindo  para cima fortemente. Mas não. A explicação parece vir do outro lado do planeta. A Tailândia, grande exportadora, vinha segurando suas fixações de preço na esperança de que os 20 centavos por libra-peso voltassem a dar o ar da graça. Mas como diz o ditado, quem espera nem sempre alcança. Quando o mercado ensaiou uma recuperação, os tailandeses correram para fixar os volumes pendentes, jogando mais oferta no sistema — e derrubando justamente a alta que esperavam. Ou seja: o mercado até tentou subir, mas levou uma rasteira da Tailândia no meio do caminho.

Essa pressão adicional pode continuar por mais alguns dias. E ela não está sozinha nessa missão de frear o ímpeto de alta. A demanda global por açúcar anda meio sonolenta, tirando a China, que aparece de vez em quando como aquele cliente que só entra na loja quando tem promoção. Sempre que os preços caem para a faixa dos 17–17.50 centavos por libra-peso, lá vêm os chineses garantir seu estoque, criando um suporte técnico visível no gráfico (e palpável no mercado).

O problema é que, do outro lado do ringue, estão os tailandeses. Quando os preços se aproximam dos 18 centavos, eles entram vendendo com gosto, fixando seus contratos e jogando um balde de água fria em qualquer tentativa de recuperação. Resultado? O mercado virou um pêndulo: de um lado, compradores oportunistas; do outro, vendedores estratégicos. E nós, no meio, assistindo a esse vai-e-volta como quem vê uma partida de tênis sem saber quem vai vencer o set. O Brasil deve ter no máximo 20% ainda para fixar nessa safra 2025/2026, grande parte contra o vencimento março/26.

Agora, um dado técnico para os que gostam de olhar além do barulho: nas últimas cinco safras, a moagem acumulada até 1º de maio representou, em média, 7.5% do total moído ao longo do ano. O intervalo vai de 5.3% (no ano mais lento) até 10% (no mais acelerado). Se projetarmos a safra atual com base apenas nas duas primeiras quinzenas, o sinal de alerta acende — e não é pouca coisa. Para os fãs de séries históricas mais longas, nas últimas 10 safras, a média ficou em 8.1%. Ou seja: ainda tem muita água (ou melhor, muita cana) pra passar por esse moinho. E o mercado, pelo visto, vai continuar refém desse cabo de guerra entre dados ruins, demanda seletiva e vendedores impacientes.

Do lado da oferta, a moagem de cana no Centro-Sul continua sendo a variável mais observada. A percepção atual é de que, mesmo com uma recuperação gradual nas próximas quinzenas, os números dificilmente terão força suficiente para mudar a direção dos preços no curto prazo. Mas — e sempre tem um “mas” — como já repetimos por aqui quase no volume máximo, seguimos acreditando que uma recuperação mais robusta pode dar as caras entre julho e agosto. Talvez não venha com fanfarra, mas deve chegar com consistência, à medida que o mercado enxergar mais claramente os limites da oferta, o impacto do clima e, quem sabe, uma reação da demanda fora da China. Nossa visão é um mercado entre 19 e 24 centavos de dólar por libra-peso no segundo semestre. Até lá, seguimos monitorando o mercado como bons estrategistas: com atenção aos detalhes, paciência com o barulho e um pouco de cafeína para aguentar os solavancos.

No campo positivo — porque nem só de más notícias vive o açúcar —, a produção da Índia continua abaixo do esperado. E isso, ainda que discretamente, ajuda a conter movimentos mais intensos de queda. Quando um dos grandes produtores do mundo entrega menos do que o previsto, o mercado para, respira e pensa duas vezes antes de despencar.

O grande destaque da semana, no entanto, foi a avalanche de estimativas sobre a safra brasileira. Pipocaram previsões para todos os gostos — de 39 a 43 milhões de toneladas de açúcar — dependendo, claro, de quem está segurando a calculadora. E, como bem sabemos, essas estimativas geralmente são menos uma projeção técnica e mais um reflexo do humor (ou do interesse comercial) de quem as publica. Cada agente lê os dados com os óculos do próprio modelo de negócio — e às vezes o grau da lente é bem seletivo. Por isso, mais do que nunca, é preciso manter a cabeça fria e o olhar crítico. Projeções de safra são úteis, mas devem ser analisadas com parcimônia, principalmente em um mercado onde o viés pode ser mais pesado que a tonelada de ATR.

Na Archer Consulting, seguimos firmes com nossa estimativa de 597 milhões de toneladas de cana moídas no Centro-Sul, o que deve resultar em uma produção de açúcar ao redor de 40,2 milhões de toneladas — embora, sejamos honestos, o viés já está inclinado para baixo. Ainda há muitas variáveis no radar, e o cenário está longe de ser definitivo. Mas cada nova semana coloca mais uma peça no tabuleiro — e, com sorte (e um pouco de juízo do mercado), o desenho vai ficando menos nebuloso.

Num evento de grãos que participei esta semana em Curitiba, chamou atenção a familiaridade do discurso dos produtores de soja e milho com aquele que já estamos acostumados a ouvir no setor sucroalcooleiro: o arrependimento. O mesmo lamento de quem viu o bonde passar, mas não embarcou. Há um sentimento generalizado de que se perderam boas oportunidades de fixação de preços — o famoso “podia ter feito e não fiz”. Nada muito diferente do que vemos nas usinas quando o mercado escapa pelas mãos e sobra só a saudade. Em meio ao evento, o economista e ex-diretor do Banco Central, Alexandre Schwartsman trouxe uma pitada de sobriedade ao afirmar que o dólar terá dificuldade em romper os R$ 5.6000, considerando esse patamar como o chão do mercado.

O mais curioso, no entanto, é constatar como o Brasil, independentemente da commodity ainda patina na formulação de políticas estruturadas de hedge. Fala-se muito em proteger margem, maximizar retorno ao acionista e profissionalizar a gestão, mas na prática, o que se vê é uma fé quase messiânica de que os preços só sabem subir. E quando a realidade entra pela porta, traz junto uma multidão de arrependidos se perguntando por que não fizeram nada quando o mercado oferecia remuneração decente. É a velha crença de querer acertar no “olho da mosca voando”, aquele ponto mágico do mercado que só os contadores de vantagem dizem ter conseguido.

No setor de açúcar, é verdade, temos visto avanços. Nos últimos três ou quatro anos, muitas usinas têm aproveitado bem os momentos de mercado com preços remuneradores. Mas ainda há quem prefira cruzar os braços esperando uma iluminação divina ou a próxima live de um influenciador financeiro com discurso genérico sobre commodities.

Nosso colaborador Marcelo Moreira, comenta: O contrato julho-25, após negociar na máxima da semana a 18.29 centavos de dólar por libra-peso, encerrou a 17.52 centavos – uma queda de 26 pontos em relação ao fechamento anterior. As cotações da semana foram: 17.78 (fechamento anterior), 18.29 (máxima), 17.42 (mínima) e 17.52 (fechamento atual). No curto prazo, o julho-25 segue em tendência de baixa, com os próximos suportes em 17.03, 16.80 e 16.50 centavos de dólar por libra-peso. As resistências encontram-se em 17.67, 18.04, 18.25, 18.40 e 19.50 centavos. O spread outubro-25 x março-26 continua oscilando entre 35 e 40 pontos, tendo encerrado a semana em -38 pontos.

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Bom final de semana a todos.

Arnaldo Luiz Corrêa

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