[:pt]MERCADO À ESPERA DE NOVIDADES[:]

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A semana foi marcada por uma calmaria incomum no mercado de açúcar, em especial em Nova York, onde o contrato para vencimento julho/25 encerrou a sexta-feira cotado a 17,31 centavos de dólar por libra-peso — uma queda de 25 pontos em relação à semana anterior. O contrato de outubro/25 também recuou, fechando a 17,51 centavos por libra-peso, o que representa uma desvalorização de 22 pontos (aproximadamente 5 dólares por tonelada).

Os vencimentos mais longos, de março/26 a março/28, oscilaram timidamente entre uma leve baixa de 18 pontos e uma modesta alta de 16 pontos. No mercado interno, o cenário não é diferente: o ambiente continua morno, com baixa liquidez. Ainda assim, o açúcar branco monitorado pelo índice Esalq fechou a R$ 133,19 por saca de 50 kg — o equivalente a cerca de 21 centavos de dólar por libra-peso em Nova York, o que mostra que os preços internos seguem firmes. Curiosamente, esse nível é bastante semelhante ao praticado no mercado doméstico da Índia, onde o açúcar é negociado entre 20.50 e 22.00 centavos por libra-peso nos estados de Maharashtra e Uttar Pradesh.

O mercado de etanol permanece travado: poucos negócios, muita hesitação e um sentimento generalizado de espera por alguma mudança significativa. Do nosso lado, acreditamos que os números da safra atual deverão ser revisados para baixo — mais detalhes adiante. Por fim, o real teve uma leve valorização ao longo da semana, com a moeda americana encerrando a R$ 5.6473.

Na semana passada, comentamos sobre a representatividade da moagem acumulada na segunda quinzena em relação ao total da safra. A média das últimas cinco safras aponta que o acumulado da segunda quinzena representa cerca de 7.5% da moagem anual. Ampliando o horizonte para os últimos dez anos, essa média sobe para 8.1%.  No entanto, é importante destacar que a correlação (aderência) entre o volume moído acumulado na segunda quinzena de abril e o volume final da safra é bastante fraca — apenas 0.49. Ou seja, há uma grande dispersão nos dados e pouca capacidade preditiva nesse momento inicial.

A partir da quarta semana (dados que serão publicados na segunda semana de junho), a correlação sobe para quase 60%, oferecendo uma base estatística mais robusta. Quando alcançamos a nona semana, na segunda quinzena de agosto, a correlação pula para 70%, o que torna agosto/setembro um momento decisivo para compreendermos o real tamanho da safra. Ainda assim, surpresas podem acontecer — como vimos na safra 2018/19, quando a segunda quinzena acumulava moagem de 60 milhões de toneladas, mas o ano terminou com 573 milhões de toneladas moídas, uma queda de quase 4% em relação à safra anterior. Em 2020/21, uma moagem igualmente forte naquele mesmo período resultou em um crescimento de 2.5% ao final da safra.

Por isso, apesar dos dados ainda estarem desconectados, um ponto me chama atenção: começa a ficar difícil sustentar a hipótese de uma safra de cana no Centro-Sul acima de 600 milhões de toneladas. Hoje, vejo essa possibilidade como improvável. Num ano que não tem La Niña nem El Niño, mas, como disse um analista de mercado, tem La Nada. Lembro-me de um experiente conselheiro de algumas empresas do setor que no início desse ano me mandou um e-mail dizendo: “Me cobra em dezembro, não vai moer 590 milhões de toneladas, [temos] menos área, cana mais velha, cana gravemente falhada em São Paulo e Mato Grosso do Sul, atraso fisiológico muito significativo de todas (começo/meio/final) as canas-socas (a meu ver irrecuperável). A turma acha que chuva ressuscita canavial.” Profético?

E mais um ponto para análise. Quando completamos a primeira quinzena de agosto, em média é quando a moagem atinge – pegando os dados das últimas 5 e 10 safras – entre 59% e 61%. Para chegar em 595 milhões de toneladas, o acumulado deveria atingir 357 milhões de toneladas, ou seja, até lá teremos que moer mais 323 milhões de toneladas. Sabe quantas vezes isso ocorreu nos últimos 15 anos? Duas vezes. Na safra passada e na anterior. Vamos acompanhar de perto.

Nosso colaborador Marcelo Moreira comenta: O vencimento julho/25 encerrou a 17.31 centavos de dólar por libra-peso, após passar a semana inteira tentando superar a média móvel de 9 dias, situada em 17.65 centavos, ao mesmo tempo em que buscava manter distância do importante suporte representado pelo piso da banda de Bollinger dos 50 dias, atualmente em 16.64 centavos. As próximas resistências estão em 17.63, 18.03, 18.39 e 19.00 centavos por libra-peso. O spread outubro/25 x março/26 encerrou a semana em 44 pontos. Seguimos com o objetivo de médio prazo de alcançar a faixa entre 80 e 100 pontos.

No próximo dia 30 de junho, o mercado de açúcar se despede — com um misto de gratidão e saudade — de uma das figuras mais admiráveis com quem já tive o privilégio de conviver: Joe Busichio. Nossa amizade já passa dos 30 anos. São três décadas de boas conversas, histórias saborosas, risadas sinceras e de uma convivência marcada pelo respeito, pela lealdade e por uma generosidade rara. Joe sempre foi assim: espirituoso, ponderado e dono de uma elegância natural que fazia dele não só um grande corretor, mas também uma grande companhia.

Virei seu cliente logo que entrei nesse mercado de açúcar, para mim até então desconhecido, cheio de perguntas. E ali estava ele: leal, ético, extremamente profissional — e, dono de um senso de humor que tem o poder de transformar até o pregão mais sombrio em uma conversa leve e inteligente. Joe nunca foi movido por números ou volumes, mas pela convicção de que bons negócios são feitos com verdade, informação de qualidade e respeito mútuo.

Joe pertence a uma estirpe rara de corretores: daqueles que não estão em extinção apenas porque o tempo passou, mas porque poucos ainda carregam a mesma integridade no olhar e a mesma generosidade nas palavras. Seu Sugar Market Report — leitura obrigatória para muita gente boa nesse mercado — vai bem além da informação. É referência, é bússola e o alívio bem-humorado que todo mundo precisa antes de começar o dia, sempre carregada de ironia, sarcasmo e aquele olhar afiado de quem tem zero paciência para conversa fiada. A aposentadoria do Joe não é só o fim de um ciclo profissional — é o encerramento de um capítulo generoso, leve e inteligente na história do mercado futuro de açúcar. E que sorte a minha por ter sido personagem, mesmo que coadjuvante, nesse enredo ao lado dele.

Boa aposentadoria, meu caríssimo Joe. O mercado perde um corretor brilhante. Eu continuo tendo o privilégio da sua amizade. E todos nós, a sorte de ter convivido com uma figura inesquecível.

Coloque na sua agenda: o próximo Curso Avançado de Futuros Opções e Derivativos vai ocorrer dias 23 e 24 de setembro, presencial, em São Paulo. Junte-se aos mais de 3,500 profissionais do mercado de commodities que já fizeram essa capacitação. Mais informações: priscilla@archerconsulting.com.br

Lembrando que segunda-feira a bolsa de NY estará fechada.

Bom final de semana a todos.

Arnaldo Luiz Corrêa

 

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