O INCRÍVEL MERCADO QUE ENCOLHEU

 

Certamente, 2023 poderá ser lembrado de forma positiva ou negativa, dependendo da eficácia das estratégias de hedge adotadas por cada participante. Raramente vivenciamos um ano repleto de oportunidades tão favoráveis para as usinas como esse, com os preços do açúcar em reais por tonelada, ajustados pela inflação, operando em níveis excepcionalmente lucrativos, uma ocorrência observada em apenas 5% das sessões de negociação ao longo de quase 25 anos.

No entanto, é lamentável que, mesmo diante das condições favoráveis propiciadas pelo mercado futuro, sugerindo que as usinas fixassem os preços dos açúcares de exportação, alguns optaram por aguardar por melhores oportunidades, alinhando-se com as narrativas otimistas que pareciam negligenciar o fato de que o mercado estava impulsionado principalmente pela participação ativa dos fundos especuladores.

Em diversas ocasiões, utilizamos este espaço para chamar atenção à projeção de uma safra significativa de cana-de-açúcar na região Centro-Sul, com implicações diretas sobre o aumento da produção de açúcar. As intervenções da Índia no mercado, especialmente no que concerne à limitação das exportações de açúcar, mostraram-se ineficazes em alterar significativamente as tendências do mercado global. O fator determinante para a recente volatilidade do mercado foi, conforme destacado em nossas análises anteriores, a atuação dos fundos especulativos. Estes fundos desempenharam um papel central, inicialmente impulsionando os preços para patamares mais elevados e, posteriormente, contribuindo para a sua queda acentuada.

Segundo o COT (Commitment of Traders), o relatório dos comitentes publicado hoje pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), a agência americana reguladora do mercado de commodities, os fundos especulativos liquidaram 52,590 contratos até a terça-feira. Devem ter liquidado mais dos pouco mais de 50,000 longs que ainda detinham naquela data. Acreditamos que a queda brusca foi exacerbada pela posição vendida a descoberto das puts (opções de venda) abaixo do preço de exercício de 27 centavos de dólar por libra-peso.

Hoje os participantes do mercado estão pouco se lixando se a Índia vai produzir mais ou menos etanol, ou se a Tailândia vai ter uma safra maior ou menor, se vai chover, se vai fazer sol, se vai ter cana bisada, se o porto está congestionado, ou se vai haver superávit ou déficit globo. Essas questões perderam a importância. Estão todos olhando para dentro de casa, coçando a cabeça e refletindo porque novamente e novamente e novamente deixaram-se levar pelas narrativas ao invés de olhar para o retorno ao acionista. Mas, se serve de consolo, tem gente pior: aqueles que acreditam que acumuladores são uma excelente estratégia de hedge, apesar de suas limitações evidentes.

Na última sexta-feira, o fechamento do mercado de Nova York para o contrato de açúcar com vencimento em março de 2024 registrou 21,99 centavos de dólar por libra-peso. Recordando uma análise que compartilhamos há seis meses, prevíamos a possibilidade de o preço atingir 22 centavos de dólar por libra-peso antes “de Papai Noel entrar pela chaminé, salvo a ocorrência de eventos climáticos adversos ou outros fatores exógenos significativos”. Não temos bola de cristal nem vocação para pitonisa. Esta previsão não se baseava em conjecturas, mas em uma análise objetiva e desapaixonada do mercado. Focamos na rentabilidade sustentada pelos fundamentos do mercado naquele momento, juntamente com a observação crítica de que os fundos especulativos estavam influenciando fortemente a tendência de alta nos preços, o que também tornava o mercado suscetível a variações bruscas.

Dessa forma, em sete semanas o mercado derreteu 700 pontos (da máxima de 28.14 dia 7 de novembro para a mínima de 21.16 centavos de dólar por libra-peso na última quinta-feira), equivalentes aproximadamente a R$ 800 por tonelada. Uma queda de quase 25% que não ocorria desde a pandemia da Covid-19. Em valores absolutos, uma queda acima de 700 pontos no mesmo intervalo de tempo ocorreu em setembro de 2011 quando NY negociou a 24.84 centavos de dólar por libra-peso depois de uma alta recente de 31.85 em agosto do mesmo ano.

No acumulado do ano, o açúcar ainda é uma commodity que está em território positivo: 24% de ganho, atrás do suco de laranja 119% e do cacau 62%. Petróleo WTI caiu 9%, trigo 29% e gás natural 58%.

Quando perguntado onde foram parar todos os altistas do mercado, o trader de uma usina de São Paulo respondeu: “escondidos atrás de algum armazém de açúcar”.

Este é o nosso último comentário do ano. Esperamos que nossas análises tenham sido mais doces do que amargas. Neste período festivo, queremos desejar aos nossos clientes, leitores, amigos, um Natal doce como a cana-de-açúcar e um Ano Novo ainda mais doce.

Enquanto vocês aproveitam as merecidas férias, nós estaremos nos preparando para o próximo ano. Voltaremos cheios de energia no primeiro final de semana de fevereiro, prontos para enfrentar os “altos e baixos” do mercado junto com vocês. Até lá, aproveitem as festas, recarreguem as baterias e cuidado com os exageros – assim como no mercado, moderação é sempre a palavra de ordem.

Feliz Natal e um 2024 cheio de alegria, esperança, saúde e sucesso em todos os aspectos de sua vida.

 

Arnaldo Luiz Corrêa

 

Surely, 2023 can be remembered positively or negatively, depending on the efficacy of the hedge strategies adopted by each participant. Rarely have we seen a year full of such favorable opportunities for the mills like this year, with sugar prices in real per ton, adjusted by the inflation rate, operating at exceptionally profitable levels, something seen in just 5% of the trading sessions over almost 25 years.

However, it is unfortunate that even under the favorable conditions fostered by the futures market, suggesting that the mills fix export sugar prices, some chose to wait on better opportunities, lining up with the optimistic narratives that seemed to overlook the fact that the market was driven mostly by the active participation of the spec funds.

On several occasions we used these weekly comments to highlight the projection of a significant sugarcane crop in the Center-South region, with direct impacts on the increase of the sugar production. India’s interventions on the market, especially as far as the restriction of sugar exports is concerned, turned out to be unable to meaningfully change the trends of the global market. The key factor for the recent market volatility was, as we pointed out in our previous analyses, the performance of the non-index funds. These funds played a key role, first pushing the prices to higher levels, and later contributing to their sharp fall.

According to the COT (Commitment of Traders), published today by the CFTC (Commodity Futures Trading Commission), the funds had liquidated 52,590 contracts by Tuesday. They must have done more than the few 50,000 lots they still had on that date. We believe the sharp fall was exacerbated by the short position of the puts below the strike price of 27 cents per pound.

Today the market players could not care less whether India will produce more or less ethanol, whether Thailand will have a larger or smaller crop, whether it will rain or be sunny, whether there will be leftover sugarcane, whether the port is congested or whether there will be global surplus or deficit. They are all looking indoors, scratching their heads and reflecting on why over and over and over again they were swayed by the narratives instead of looking at the return to the shareholders. But, if it is any consolation, there are people who are worse off: those who believe that accumulators are an excellent hedging strategy, despite their clear restrictions. 

Last Friday, the closing of the market of New York for the sugar contract expiring in March/2024 reported 21.99 cents per pound. Looking back on an analysis we shared six months ago, we predicted the possibility of the price reaching 22 cents per pound before “Santa Claus climbed down the chimney, save the occurrence of adverse climate events or other significant exogenous factors”. We don’t have a crystal ball or vocation for being a fortune-teller.  This prediction was not based on conjectures, but on an objective and dispassionate market analysis. We focused on the profitability supported by the market fundamentals strongly influencing the high-price trend, which also made the market susceptible to abrupt fluctuations. 

So, within seven weeks, the market melted 700 points (from the 28.14 high on November 7 to the 21.16 cents per pound low last Thursday), equivalent to about R$800 per ton – a fall of almost 25% that had not occurred since the Covid-19 pandemic. In absolute values, a fall above 700 points over the same time interval occurred in September/2011 when New York traded at 24.84 cents per pound after a recent high of 31.85 in August the same year.

In the yearly accumulated, sugar is still a commodity that is in positive territory: 24% of gain, behind orange juice (119%) and cocoa (62%). WTI oil, wheat and natural gas fell 9%, 29% and 58%, respectively.

When asked where all the market bulls had gone to, the trader of a São Paulo mill answered, “They are hiding behind some sugar warehouse”.

This is our last comment of the year. We hope our analyses have been more sweet than bitter.  During this festive period, we want to wish our clients, readers and friends a Christmas as sweet as sugarcane and an even sweeter New Year.

While you enjoy your deserved vacation, we will be preparing for next year. We will be back full of energy on the first weekend of February, ready to face the “highs and lows” of the market with you. Until then, enjoy the Holidays, recharge the batteries and be careful not to go overboard. Just like on the market, moderation is always the key word.

Merry Christmas and a 2024 full of happiness, hope, health and success in all aspects of your life.

Arnaldo Luiz Corrêa

 

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