REVIRAVOLTA À VISTA OU ALARME FALSO?

O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira com o contrato para vencimento outubro/24 negociando a 18.40 centavos de dólar por libra-peso, uma alta de 30 pontos em relação ao fechamento da semana passada, representando 6.60 dólares por tonelada. Os demais contratos com vencimentos até março/26 também fecharam em território positivo entre 3 e 31 pontos (entre um e sete dólares por tonelada).

Correndo o risco de me antecipar aos fatos, mas já arriscando um palpite, parece que estamos começando a testemunhar uma reviravolta no mercado de açúcar em NY. Após ser fortemente pressionado por variações cambiais bem acima da média—quem não se lembra do dólar flertando com os R$ 5,9000? e pela constatação do colossal fluxo de exportação de açúcar do Brasil, que despejou quase 38 milhões de toneladas no mercado internacional em apenas doze meses, o cenário ficou complicado. E, como se não bastasse, os fundos especulativos “dando uma mãozinha” na queda, sem ligar muito para os fundamentos, e o ritmo frenético da moagem influenciando as decisões, era de se esperar que o mercado futuro não tivesse outro caminho a seguir além da queda. Afinal, como ignorar um viés baixista tão evidente?

No entanto, a situação dos canaviais está muito mais crítica do que se imaginava. As cenas angustiantes dos incêndios que afetaram diversas usinas, amplamente compartilhadas nas mídias sociais, dão uma ideia de como o problema se espalha, mesmo quando parece ser algo isolado. O consenso de que a moagem no Centro-Sul ficaria em torno de 605 milhões de toneladas já foi por água abaixo. Depois de apontar os lápis e refazer as contas, esse número está rapidamente caminhando para os 600 milhões de toneladas, com viés de baixa. E, sinceramente, não ficaria surpreso se encerrássemos o ano com 590 milhões de toneladas moídas.

O impacto dos incêndios nos canaviais ainda carece de melhor avaliação, mas obviamente que a cana queimada tende a perder qualidade, especialmente em relação ao teor de sacarose, que é fundamental para a produção de açúcar e etanol. A cana queimada precisa ser processada rapidamente para minimizar as perdas de açúcar, mesmo assim, a eficiência do processo (leia-se a cristalização) pode ser comprometida. Há também aumento de resíduos, como cinzas e materiais queimados, que aumentam as impurezas do caldo extraído, exigindo mais tratamento durante a produção.

Estará a safra 25/26 no Centro-Sul também comprometida? O fogo pode danificar as raízes e os toletes (brotações) da cana, o que pode prejudicar o replantio e o crescimento das próximas safras, reduzindo a produtividade futura do canavial. Esse, para mim, é um ponto que necessita cuidadosa observação. Vou repetir o que disse aqui no último comentário: “Se a safra 25/26 sofrer do déficit hídrico proveniente desta safra corrente, prepare-se para preços mais altos. Bem mais altos.”

Insensível a tudo isso, e nem poderia ser diferente dada a natureza do seu negócio, os fundos especulativos dão de ombros e – segundo o COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, publicado nesta sexta-feira pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, com base na posição de terça-feira passada, estavam vendidos 70,960 lotes.

Eles talvez nem percebam, mas a posição dos fundos especulativos está mais vulnerável do que parece. A combinação da preocupante situação hídrica nos campos com a crescente probabilidade de uma “morte súbita” pode ser o estopim para uma explosão nos preços. E como se não bastasse, ainda vamos enfrentar uma longa entressafra. Como sabemos, uma entressafra prolongada exige ajustes no planejamento agrícola, como a antecipação ou o adiamento do plantio da próxima safra. E isso pode impactar a produtividade futura, dependendo das condições climáticas e da saúde do solo. Ou seja, é um verdadeiro efeito dominó.

Agora, vamos imaginar um cenário hipotético: supondo que a Índia não retorne ao mercado internacional até pelo menos abril do ano que vem, que a tal “morte súbita” ocorra em outubro, e que a safra 25/26 seja comprometida pelos fatores já mencionados… como ficariam os preços no início do ano? Bem, NY terá que negociar a um valor que faça a Índia repensar sua política de exportação, oferecendo preços melhores do que os praticados no mercado interno de lá. É como tentar convencer alguém a sair de casa oferecendo algo melhor do que o sofá e a TV—não vai ser fácil, mas é possível!.

Se tivermos uma combinação de fatores – hoje aparentemente com pouca probabilidade – como o preço do petróleo acima de 80 dólares por barril e os grãos recuperando a queda (soja acumula perda de 23% no ano e o milho, 25%), quem sabe aqueles 30 centavos de dólar por libra-peso tão sonhados pelo mercado no último trimestre do ano passado não se torne realidade. Calma, é apenas uma conjectura.

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Bom final de semana

Arnaldo Corrêa

Este relatório foi preparado pela Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda. para uso exclusivo do destinatário, podendo, no entanto, ser reproduzido ou distribuído por este a qualquer pessoa desde que citada a fonte. Este relatório é distribuído somente com o objetivo de prover informações e não representa, em nenhuma hipótese, uma oferta de compra e venda ou solicitação de compra e venda de qualquer instrumento financeiro ou serviço. As informações contidas neste relatório são consideradas confiáveis na data na qual este relatório foi publicado. Entretanto, as informações aqui contidas não são por parte da Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda. garantia de exatidão das informações prestadas ou julgamento sobre a qualidade delas, e não devem ser consideradas como tal. As opiniões contidas neste relatório são baseadas em julgamentos e estimativas, estando, portanto, sujeitas a mudança.

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