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O mercado de açúcar encerrou a semana com um tom mais positivo, refletindo a preocupação das usinas acerca da qualidade da cana, do atraso do inicio da moagem e também, ainda que parcialmente, das conversas e análises feitas durante os eventos em Ribeirão Preto, na semana passada, que reuniram algumas das principais cabeças pensantes do setor.
O contrato futuro de açúcar em NY para vencimento maio/25 fechou a semana cotado a 19.19 centavos de dólar por libra-peso, uma alta expressiva de 86 pontos, ou quase 19 dólares por tonelada, em relação ao fechamento da semana anterior. Todos os vencimentos ao longo da curva de preços que se estende até outubro/27 também subiram, registrando ganhos entre 34 e 96 pontos, o que equivale a um avanço de aproximadamente 7 a 21 dólares por tonelada. O câmbio também chamou atenção, com o dólar encerrando a semana em 5,7225 reais, representando uma leve valorização da moeda brasileira de 0,25%.
O principal tema discutido nos eventos de Ribeirão Preto foi a previsão de safra para 2025/26, que oficialmente começa em 1º de abril. As estimativas de moagem variam bastante, indo de 595 a 630 milhões de toneladas de cana, o que demonstra que o mercado está convencido de que não tem a menor ideia do tamanho da próxima safra. Com o devido respeito a todos os analistas, é assim mesmo. Prever a safra brasileira de cana e açúcar virou quase um ritual anual.
Analistas estudam clima, produtividade, pragas, chuvas, La Niña, El Niño e até se a sorte está do lado deles. Mas a verdade é que, se colocarmos todas as estimativas possíveis dentro de um intervalo — digamos, entre 595 e 630 — e sortearmos um número aleatório, nossa chance de acertar exatamente a produção real da safra é 2.78%. Ou seja, estatisticamente falando, temos quase a mesma precisão de um apostador de loteria que jura que tem um “método infalível” para escolher os números. Claro, o mercado adora uma previsão. Mas talvez devêssemos começar a fazer projeções com um globo de bingo. No final, acertar o número exato pode ser tão imprevisível quanto o próprio mercado. Agora, se alguém quiser tentar esse método e por acaso cravar o número certo, me avise. Prometo que pago um café. Com açúcar, é claro.
Brincadeiras à parte, a preocupação com a qualidade da matéria-prima tem levado algumas usinas a postergar o início da colheita, e já circulam informações – ainda não confirmadas – de que algumas unidades podem começar apenas em maio.
As fixações de preços avançaram significativamente no mês de fevereiro. De acordo com nosso modelo, cerca de 3.25 milhões de toneladas foram fixadas a um preço médio de 18.19 centavos de dólar por libra-peso, o equivalente a 2,449 reais por tonelada FOB-Santos. Com isso, o total fixado acumulado para a safra 25/26 já soma 25 milhões de toneladas, com um preço médio de 2,489 reais por tonelada (incluindo polarização) e um hedge médio em Nova York de 18.72 centavos de dólar por libra-peso. Sem o ajuste de polarização, a fixação acumulada está em torno de 108.34 centavos de real por libra-peso.
Além desse extraordinário volume, algumas usinas já estão antecipando fixações para as safras 26/27 e até 27/28. Um importante banco com os pés fincados no agronegócio mencionou que há clientes travando preços para 27/28 e até 28/29 (balcão, evidentemente). Esse movimento pode indicar que as usinas estão prevendo safras mais volumosas a partir da 26/27, possivelmente refletindo os investimentos recentes em replantio e renovação dos canaviais. Com maior volume e custo fixo diluído, a previsão é de menor custo de produção do açúcar e margem operacional mais generosa. Uma coisa é digna de nota, as usinas estão cada vez mais preocupadas com a gestão eficiente de riscos.
A curva do NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira) pode estar incentivando esse olhar para o longo prazo. Se considerarmos que 2026 será um ano de eleições presidenciais no Brasil, pode haver um certo otimismo quanto à possibilidade de queda dos juros e a valorização do real frente ao dólar, o que poderia beneficiar a estrutura de preços no futuro. Isso, claro, se essa caterva que está aí for defenestrada por gente de qualidade. Mas, por ora, essas são apenas conjecturas.
E não podemos nos esquecer da Índia. Sem utilizar nossa bola de cristal, temos uma chance não desprezível de ver o trem descarrilhar se ao chegar em agosto/setembro, por exemplo, tivermos uma combinação de: a) safra mais lenta no Centro-Sul do que previsto – como ocorreu em 2012/2013; b) estoque de passagem na Índia levando um choque de realidade, pois achamos que alguns números daquele país estão fora da realidade (consumo, produção e estoque inicial); c) se a estimativa da safra indiana 2025/2026 que inicia em outubro sofrer algum baque; d) a participação do Brasil no mercado internacional pulou em três anos de 46% para 61%. Qualquer redução na disponibilidade de açúcar por parte do País, pode trazer grande instabilidade nos preços de NY. Essa combinação pode fazer explodir o spread março/maio 2026. Cisnes negros farão seus ninhos por aqui?
Os consumidores industriais devem ficar de olho nos excelentes preços para 2025 e 2026 em centavos de dólar por libra-peso, deixando para fixar o dólar depois. Não acreditamos que na atual conjuntura esses preços vão permanecer nesse nível. Além do Brasil, quem consegue vender açúcar abaixo de 18 centavos de dólar por libra-peso?
Segundo o COT (Commitment of Traders), o relatório dos comitentes, publicado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), a agência americana reguladora do mercado de commodities, nesta sexta-feira, com base nas posições de terça-feira passada, os fundos não-indexados estão vendidos quase 80,000 lotes, praticamente a mesma posição da semana passada. Como o movimento de alta foi mais intenso de quarta-feira em diante, pode ser que ela tenha sido alimentada ela recompra dos fundos, fato que só saberemos na próxima sexta-feira.
Nosso colaborador, Marcelo Moreira, diz: “O vencimento Maio-25, após negociar na mínima da semana a 18.34 centavos de dólar por libra-peso, encerrou a semana a 19.19 centavos de dólar por libra-peso. O real deverá dar nova sustentação, pois na sexta-feira chegou a valorizar +1.20% encerrando a 5.7400. Próximos suportes: 18.62/18.30/17.57 centavos de dólar por libra-peso. Atenção às médias móveis dos 100 e 200 dias, pois encerraram praticamente “em cima do mercado”, respectivamente a 19.01 e 19.13 centavos de dólar por libra-peso. Se a média móvel dos 100 dias conseguir cruzar para cima a média móvel dos 200 dias, o Maio-25 poderá buscar os 19.90/20.57 e, quem sabe, os 21.65 centavos de dólar por libra-peso. Atenção no spread “Out-25/Março-26”, que encerrou a 32/31 pontos!”
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Um excelente final de semana a todos
Arnaldo Luiz Corrêa
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