Mercado de Café – Comentário Semanal – 12 – 16 de maio de 2025.
ATÉ ONDE VAI ESSA QUEDA?
A semana começou otimista com o mundo encontrando um certo alivio com os EUA anunciando uma pausa nas brigas tarifárias com a China pelos próximos 90 dias. As bolsas de valores voltaram a subir, o receio de uma recessão global ocorrer diminuiu, o petróleo voltou a subir com expectativas da China voltar a crescer, o R$ voltou a valorizar (chegou a negociar abaixo dos 5,60 R$/US$ e encerrou @ 5,66 R$/US$)... Porém os cafés robusta e arábica foram no contrapé – caindo forte – com o Brasil avançando nas operações da colheita da safra 25/26.
O café arábica encerrou a semana com o vencimento julho-25 caindo em NY -6,38% (fechamento anterior / máxima / mínima / fechamento atual respectivamente @ 387,75 / 390,10 / 362,75 / 365,65 centavos de dólar por libra-peso) e o café robusta vencimento julho-25 caindo em Londres -7% (fechamento anterior / máxima / mínima / fechamento atual respectivamente @ 5.226 / 5.241 / 4.809 / 4.865 US$/tonelada)!
O mercado do café tipo robusta segue muito pressionado com o início da colheita brasileira da safra atual 25/26 (aproximadamente 20% já colhido). Os preços voltaram a negociar no mercado interno abaixo dos 1.500 R$/saca (caíram 500 R$/saca em 2 meses ou -27%)! O vencimento Julho-25 voltou a negociar nas mínimas desde o dia 09 de abril de 2025 “fechando” o gap deixado nesse dia @ 4.785 US$/tonelada.
O julho-25 encontra agora um forte suporte na média-móvel dos 200 dias (encerrou a semana @ 4.785 US$/tonelada). Se perder esse importantíssimo suporte o próximo objetivo está “lá embaixo”, ao redor dos 4.125 US$/tonelada e em seguida nos 3.500 US$/tonelada. Esses valores, considerando um desconto/”basis” base “zero” representam respectivamente 247 US$/saca (1.410 R$/saca) e 209,96 US$/saca (1.196 R$/saca). Considerando um desconto/”basis” base “-500 US$/tonelada” esses valores passam a representar 217,45 US$/tonelada (1.239 R$/saca) e 150,00 US$/tonelada (854 R$/saca).
Infelizmente muitos produtores viram “a banda passar” e não fizeram absolutamente nada quando o mercado deu oportunidades durante semanas para o produtor se proteger. Há 2 semanas foi possível comprar um seguro contra essa queda – uma estrutura de venda “put-spread” vendendo uma opção de compra “call” no vencimento novembro-25 base “strikes” +5.000 US$/tonelada / - 4.400 US$/tonelada / -5.300 US$/tonelada @ “custo zero”. Ou, apenas vender uma opção de compra “call” no vencimento novembro-25 strike 5.000 US$/tonelada capturando aproximadamente 450 US$/tonelada de prêmio. Em uma semana o vencimento novembro-25 também “derreteu”, saindo dos 5.180 US$/tonelada para encerrar @ 4.860 US$/tonelada.
Realmente muito frustrante - após todos esses anos procurando instruir / aconselhar o produtor a se proteger, procurando ensinar os conceitos básicos das estruturas de hedge – ver a grande maioria do produtor “deixar” na mesa 500/800 e quem sabe, até mesmo 1.000 R$/saca por falta de gestão / interesse em aprender, investir em aprendizado e “deixar a banda passar” desse jeito! Para um produtor do café robusta, com uma produção de 30.000 sacas, estamos falando em uma perda na sua receita entre -15/-30.000.000 R$ (15 a 30 milhões de reais)...
O café arábica também realizou e o vencimento julho-25 encontra forte suporte na importante média-móvel dos 100 dias @ 364 centavos de dólar por libra-peso. Se perder esse suporte os próximos objetivos estão apenas @ 346 e 322 centavos de dólar por libra-peso (média-móvel dos 200 dias). Considerando o desconto/”basis” em -35 pontos esses suportes representam respectivamente 411 US$/saca (2.345 R$/saca) e 379,65 US$/saca (2.163 R$/saca).
Por enquanto, do lado fundamental, nada mudou. Existe muito pouco café arábica disponível para novas vendas e o café recém colhido (tanto robusta quanto arábica) deverá começar a ser entregue / exportado apenas a partir do mês de junho-25.
O cenário mundial segue com estoques justos, com a produção mundial projetando um déficit contra o consumo mundial (novamente um déficit entre -9 / -17 milhões de sacas), e com a projeção para o índice “estoque global x consumo global” no final de junho-26 ainda ficando praticamente “zerado”.
Outro ponto importante para o produtor ficar atento, tanto o produtor do café arábica quanto do robusta, será a nova tentativa da implementação das novas regras para exportação do café para a Europa, obedecendo as regras da EUDR*. Dessa forma, creio que veremos novamente a demanda acelerar para embarques durante os meses outubro-novembro-25 (para o produto chegar em portos europeus antes da virada do ano). Assim, creio que o produtor que cadenciar as suas vendas terá novas oportunidades para conseguir preços melhores durante os últimos 2 meses desse ano (até o dia 15 de dezembro).
O produtor do café robusta segue “dando” seu café para o “mercado”, vendendo com um desconto superior a -40% para o café arábica tipo 6 e aproximadamente -25/-30% para o café arábica “tipo rio”.
No mês de abril-25 o Brasil exportou, segundo dados da Cecafé* “apenas” 3.09 milhões de sacas. Para o mês de maio-25 as projeções estão indicando novamente uma exportação nesse patamar. Então, provavelmente o Brasil irá encerrar o ano safra julho-24/junho-25 exportando acima dos 45 milhões de sacas!
Será que o Brasil irá exportar durante o próximo ano safra julho-25/junho-26 as mesmas 45 milhões de sacas desse ano? Se o Brasil produzir 60 milhões de sacas e consumir novamente 21 milhões de sacas, então, o Brasil terá aproximadamente 39 milhões de sacas disponíveis para atender o mercado externo!
O Brasil continuará sendo o principal “fazedor” de preço durante os próximos 6-8 meses! Dependendo do inverno e da próxima florada a safra 26/27 poderá ser uma nova safra recorde colocando pressão nos preços – mesmo considerando que o índice mundial “estoque x consumo” só voltará ao equilíbrio, acima dos 15% a partir da safra 28/29...
Seguimos monitorando o andamento da colheita, os embarques, e principalmente o movimento dos fundos + especuladores, e o clima! Para a próxima semana existe a previsão da chegada da primeira frente fria. E o vencimento das opções no julho-25 (em NY) será no próximo dia 12 de junho! Como mencionado no comentário da semana passada existe uma quantidade considerável de opções de compra “call*” em aberto nos strikes 400 / 420 e 450 centavos de dólar por libra-peso.
Ainda acredito que até o vencimento desse exercício veremos o julho-25 novamente negociando acima dos 400 centavos de dólar por libra-peso.
Produtor: como sempre, PROTEJA-SE! E não “deixe a banda passar’...
O “mercado” sempre será soberano (no curto, médio e no longo prazo).
Boa semana a todos!
Marcelo Fraga Moreira*
PS: Você produtor (arábica e/ou robusta), caso queira saber mais sobre nossa consultoria para as operações de hedge, entre em contato conosco através dos emails:
priscilla@archerconsulting.com.br ou
mmoreira66@yahoo.com
*Marcelo Fraga Moreira é um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas, escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.
** “Call” = opção de Compra
** “Put” = opção de Venda
** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo e comprando a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;
** “IBGE” = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
** “Cecafé” = Conselho dos Exportadores de Café do Brasil
** “SECEX” = Secretaria comércio exterior
** “CNC” = Conselho Nacional do Café
** “USDA” = Departamento da Agricultura dos Estados Unidos
** “FNC” = Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia
** “FAS” = Serviço Agrícola Estrangeiro do USDA*
** “OIC” = Organização Internacional do Café
** “GCA” = Green Coffee Association
** “ABIC” = Associação Brasileira da Indústria de Café
** “Sincal” = Associação dos Produtores do Brasil
** “NDF” = (Non-Deliverable Forward), um contrato a termo de moeda com liquidação financeira, com vencimento para aquele mês
** “Pib” = Produto Interno Bruto
** “FED” = Banco Central Americano
** “NOAA” = Departamento Nacional da Atmosfera e Oceanos dos Estados Unidos
** “EUROSTAT” = Serviço de Estatística da União Europeia responsável pela publicação de estatísticas e indicadores de elevada qualidade a nível europeu que permite a comparação entre países e regiões
** “OPEP” = A Organização dos Países Exportadores de Petróleo
** “FOMO” = É caracterizada pela necessidade constante que uma pessoa tem de saber o que outras estão fazendo. FOMO, sigla que vem da expressão em inglês “fear of missing out”, que traduzida para o português significa “medo de ficar de fora”.
o investidor fica com receio em perder uma oportunidade no mercado e sai “comprando ou vendendo” para não ficar de fora da “oportunidade” divulgada na mídia (FOMO = Free of missing out A Organização dos Países Exportadores de Petróleo
** “COOXUPÉ” = Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé
** “Coccamig” = Cooperativa Central de Cafeicultores e Agropecuaristas de Minas Gerais
** “PIB” = Produto interno Bruto de um país
** “COPOM” = Comitê de Política Monetária, é um órgão do Banco Central. Ele foi criado em 1996 com o objetivo de traçar e acompanhar a política monetária do país. Esse é o órgão responsável pelo estabelecimento de diretrizes a respeito da taxa de juros
** “BASIS” = O basis é a disparidade de preço causada pela diferença geográfica entre os pontos de entrega da commodity. Ele é calculado subtraindo o valor da commodity no mercado físico em determinada praça, pelo preço do mesmo produto no mercado futuro.
** “Bandas de bollinger” = do inglês bollinger bands, é um indicador de volatilidade bastante utilizado para prever se um ativo está sobre-comprado, estável ou sobre-vendido. Ele é formado por duas médias móveis, uma superior e outra inferior que indicam tal informação. São alguns atributos desse indicador:
Antever os níveis de preço de um ativo
Antecipar topos e fundos de preço no gráfico
Mostrar a intensidade de valorização ou desvalorização de um ativo
Portanto, este indicador tenta mostrar se uma ação está barata ou cara, em um determinado período de tempo.
Desse modo, ele é indicado para operações de curto prazo, day trade ou swing trade.
O autor da técnica é o americano John Bollinger (nascido em 1950), analista financeiro e colaborador da área de análise técnica. John lançou o seu livro Bollinger on Bollinger Bands em 2001, mas essa técnica começou a ser desenvolvida por ele ainda na década de 1980. As bandas são derivadas das médias móveis e mostram que, independente de qualquer movimento que o preço faça, ele tende a voltar a um equilíbrio. Portanto, temos aí um “estreitamento das bandas” no gráfico de candlestick.
** “PMI” = A sigla PMI significa, em inglês, Purchasing Manager’s Index e é um indicador que mede a atividade econômica de um país a partir de pesquisas mensais realizadas por uma empresa privada.
Assim, o PMI também é conhecido como Índice de Gerentes de Compra e seu principal objetivo é fornecer informações sobre a temperatura de alguns setores da economia e orientar os diversos profissionais do mercado.
** Vicofa: Associação do Café e Cacau do Vietnam