EXERCÍCIO DE FUTUROLOGIA

Muitas dúvidas e incertezas pairam sobre o universo sucroalcooleiro nos últimos meses. Como era de se esperar, o mercado futuro de açúcar em Nova York reflete essas questões, encerrando a sexta-feira praticamente no mesmo lugar em que começou — ou seja, muita conversa, pouca ação.

O vencimento de outubro-24 fechou a 18.94 centavos de dólar por libra-peso, apenas quatro pontinhos acima do fechamento da semana anterior. Já o vencimento de março-25 fechou a 19.32 centavos, apenas 8 pontos acima. Em outras palavras, o mercado oscilou, mas ficou mais parado que água de poço.

Nas rodas de conversa e nos grupos de WhatsApp, o tema do momento é o estrago causado pela seca e pelos incêndios. A combinação desses fatores deve impactar entre 2.75% e 3.25% da safra de cana — e os danos invisíveis, aqueles que só o futuro dirá, como o efeito sobre as plantas para a próxima safra, são motivo de especulação. Será que chuvas torrenciais no verão conseguirão compensar o déficit hídrico que as plantas sofreram (e ainda sofrem)? Não há consenso. Uns dizem que o estrago está feito; outros apostam que o céu pode corrigir tudo, basta chover o suficiente. Até lá, continuamos na torcida.

Opinar sobre o tamanho da safra atual já é um exercício de adivinhação que daria trabalho até para um vidente experiente. Agora, tentar prever a safra do próximo ano? Aí é puro chute. Os números divulgados pela UNICA referentes à moagem acumulada até a segunda quinzena de agosto mostram um total de 422,63 milhões de toneladas de cana. Para complicar, nas últimas cinco safras, o total de cana remanescente após essa data variou entre 130 e 248 milhões de toneladas — uma variação digna de uma montanha-russa.

Suponhamos que esta safra chegue a um total de 605 milhões de toneladas, e que o saldo remanescente tenha um ATR médio de 146,33 kg/tonelada (para manter a média final da safra em 140 kg/tonelada). Nesse cenário, teríamos uma produção adicional de açúcar de cerca de 12 milhões de toneladas. Agora, se reduzirmos a estimativa para 590 milhões de toneladas e considerarmos uma ATR de 146,89, a produção adicional cairia para 11 milhões de toneladas de açúcar. Em ambos os cenários, trabalhamos com um mix de 47% para o açúcar, resultando em uma produção mínima de 38,22 milhões de toneladas de açúcar.

No entanto, acreditamos que a produção final de açúcar será menor do que essa estimativa, já que a deterioração da cana deverá ficar mais evidente no próximo relatório da UNICA. Fica o aviso: a realidade pode surpreender — e não necessariamente de forma agradável.

Continuando nosso breve exercício de futurologia, se estimarmos uma perda de 15% no total remanescente de moagem (pelas razões já discutidas) e aplicarmos esse percentual sobre a diferença entre a previsão inicial e a moagem acumulada até o momento, fecharíamos a safra com 578 milhões de toneladas de cana e uma produção total de açúcar em torno de 37,4 milhões de toneladas. Vamos precisar monitorar os próximos relatórios com atenção, porque o susto pode ser grande.

Agora, para jogar um pouco de água fria no otimismo, temos pelo menos três pontos fortes que contrabalançam essa visão altista: a) O mercado de energia está desanimando os otimistas, com o WTI e o Brent acumulando quedas de 10% nos últimos 30 dias, o que pressiona a Petrobras; b) Estamos em período eleitoral no Brasil, e a Petrobras tem margem para reduzir o preço da gasolina em pelo menos R$ 0,20 por litro para alinhar-se ao mercado internacional, o que pode impactar o mercado de etanol; c) Os fundos estão voltando a vender e agora já carregam uma posição vendida à descoberto de quase 20.000 lotes, o que também pesa sobre os preços.

Por outro lado, alguns fatores podem dar uma sustentação ao mercado: o corte de juros nos EUA, esperado para a próxima semana, e o provável aumento dos juros no Brasil promovido pelo Banco Central. Esse spread mais alto pode atrair capital estrangeiro e valorizar o real, que fechou a sexta-feira a R$ 5,5670. E quando o dólar cai, as commodities ficam mais felizes — e nós também.

Análise técnica: O contrato Out-24 (mínima/máxima/fechamento respectivamente a 18.43/19.42/19.01 centavos de dólar por libra-peso) voltou a testar, mas ainda não conseguiu “fechar o gap” a 18.43 centavos de dólar por libra-peso, deixado desde o dia 23 de agosto de 2024. Apesar de ter negociado por duas vezes na mínima da semana a 18.43 e 18.44 centavos de dólar por libra-peso, o Out-24 ainda precisa negociar abaixo de 18.43 centavos de dólar por libra-peso para "confirmar o fechamento do gap". Os dados da UNICA, que apontam uma redução de aproximadamente 6% na moagem durante a segunda quinzena de agosto (para “apenas” 3.26 milhões de toneladas), e a expectativa de uma “morte súbita” na moagem da safra 24/25 (em função da seca e das queimadas), continuarão a dar suporte ao mercado. No curto prazo, o Out-24 encontra suportes a 18.98/18.79/18.43 centavos de dólar por libra-peso e resistências a 19.92 e 20.14 centavos de dólar por libra-peso. Se o mercado voltar a cair, buscando o patamar dos 18.00 centavos de dólar por libra-peso, poderá ser uma ótima oportunidade para fundos, indústria e usinas ajustarem suas posições. (Marcelo Moreira)

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Bom final de semana

 

Arnaldo Luiz Corrêa

 

Este relatório foi preparado pela Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda. para uso exclusivo do destinatário, podendo, no entanto, ser reproduzido ou distribuído por este a qualquer pessoa desde que citada a fonte. Este relatório é distribuído somente com o objetivo de prover informações e não representa, em nenhuma hipótese, uma oferta de compra e venda ou solicitação de compra e venda de qualquer instrumento financeiro ou serviço. As informações contidas neste relatório são consideradas confiáveis na data na qual este relatório foi publicado. Entretanto, as informações aqui contidas não são por parte da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda. garantia de exatidão das informações prestadas ou julgamento sobre a qualidade delas, e não devem ser consideradas como tal. As opiniões contidas neste relatório são baseadas em julgamentos e estimativas, estando, portanto, sujeitas a mudança.

 

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