PETRÓLEO DISPARA, AÇÚCAR PATINA

O contrato futuro de açúcar em NY com vencimento em julho de 2025 fechou a semana cotado a 16.08 centavos de dólar por libra-peso, acumulando uma queda de 43 pontos — o equivalente a 9.50 dólares por tonelada. Os contratos de outubro e março também recuaram: 34 e 29 pontos, respectivamente, ou 7.50 e 6.40 dólares por tonelada. Já os vencimentos entre maio de 2026 e março de 2027 — que representam a safra 2026/27 do Centro-Sul — caíram entre 11 e 26 pontos, o que equivale a uma retração entre 5.70 e 2.40 dólares por tonelada. Nada desprezível para uma semana em que o petróleo, teoricamente, deveria ter puxado os preços do açúcar para cima.

A sexta-feira começou com tensão geopolítica: Israel bombardeou Teerã e o petróleo reagiu como se mandava o figurino — subiu até 14% no overnight. Em tese, esse movimento deveria ter contaminado positivamente o açúcar, via etanol. Afinal, petróleo em alta encarece a gasolina e torna o etanol mais competitivo. Mas, como sempre, no Brasil as leis do mercado são frequentemente reescritas por decreto. A lógica econômica costuma parar na porta do Palácio do Planalto, onde o governo insiste em usar a Petrobras como instrumento de política populista. A fórmula é conhecida: represar preços para conter a inflação — como se maquiar o termômetro resolvesse a febre.

O fator que mais pesou nesta sexta-feira foi que o mercado carregava mais de 36 mil lotes em aberto de puts (opções de venda) com preços de exercício entre 16 e 17 centavos de dólar por libra-peso, todas com vencimento na próxima segunda-feira.

Muitos players — incluindo usinas, tradings e consumidores industriais — haviam vendido essas opções de venda no dinheiro, buscando capturar prêmios generosos, na esperança de que o mercado não sustentaria níveis tão baixos. Mas o mercado não perdoa otimismo mal precificado: com a aproximação do vencimento, esses vendedores de puts começaram a despejar contratos futuros para se proteger, pressionando ainda mais os preços. Resultado? A famosa espiral descendente, em que o hedge vira gatilho da própria queda.

Para piorar, os tailandeses continuam fixando exportações atrasadas, despejando mais volume no mercado físico. E, como se não bastasse, os fundos especulativos voltaram ao jogo com gosto: segundo a CFTC (Commodity Futures Trading Commission), só na semana de 3 a 10 de junho, os fundos adicionaram mais de 11,500 lotes à sua posição líquida vendida, agora somando 92,356 lotes — o equivalente a 4.7 milhões de toneladas de açúcar.

E, ironicamente, quem poderia jogar uma boia de salvação no mercado seria... a UNICA. Mas a entidade resolveu divulgar os dados da segunda quinzena de maio só na segunda-feira. Timing perfeito. O mercado precisando de dados frescos, e a informação ficando para depois do fechamento das opções.

E essa segunda promete emoções: enquanto finalizo este comentário, circulam relatos de um contra-ataque do Irã a Israel, com mísseis cruzando o Oriente Médio. A expectativa é de nova disparada no petróleo, com impacto nos combustíveis fósseis — e talvez, quem sabe, no etanol. Desde que, claro, a Petrobras não volte a ser tratada como um balcão de subsídios disfarçado de estatal.

Mesmo antes do aumento da tensão geopolítica, algumas mudanças já estavam no radar. Usinas do Centro-Oeste (Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) começaram a migrar sua preferência de produção para o etanol, diante da redução das margens no açúcar. Um sinal claro de que o mix pode começar a mudar.

O cenário para esta semana, portanto, é de potencial turbulência. Uma combinação de conflito armado, números fracos da safra e comportamento agressivo dos fundos pode ser o gatilho de uma reviravolta. Ainda não acreditamos numa recuperação imediata. Mas à medida que os dados da safra forem sendo consolidados — mostrando queda no TCH e no ATR — é possível que o mercado comece a reprecificar o cenário e os fundos tendo que sair de suas posições vendidas, recomprando-as.

Minha aposta? Entre a segunda quinzena de julho e, no mais tardar, a primeira semana de agosto, poderemos ver uma reação. A pergunta é: ainda resta muito açúcar tailandês para fixar? E os fundos, manterão essa postura agressiva ou vão começar a desmontar posições?

Como me disse um trader experiente: “não existe safra igual a outra”. Verdade. Mas esta tem semelhanças curiosas com 2023 — quando tínhamos fundamentos fracos e preços fortes. Agora, temos fundamentos fortes e preços fracos. Ambas movidas pelos fundos. Em 2023, os fundamentos venceram. E agora?

Nosso colaborador Marcelo Moreira destaca que o contrato Julho/25, que iniciou a semana negociando a 16.75 centavos de dólar por libra-peso, encerrou a 16.08 centavos. As cotações ao longo da semana foram: abertura anterior a 16.49, máxima a 16.75, mínima a 16.07 e fechamento a 16.08 centavos de dólar por libra-peso. No curto prazo, o Julho/25 precisa urgentemente superar os 16.26 centavos (piso da banda de Bollinger dos últimos 50 dias). Caso contrário, o mercado continuará mirando os 15.32 centavos de dólar por libra-peso — mínima dos últimos três anos registrada em 18 de novembro de 2022. As próximas resistências estão em 16.69, 17.00 e 17.65 centavos. Já os suportes se encontram em 15.90, 15.47 e 15.32 centavos de dólar por libra-peso. O indicador estocástico voltou a encerrar a semana em território sobrevendido, o que pode abrir espaço para um repique nos preços no curto prazo. O spread entre Outubro/25 e Março/26 fechou a 55/56 pontos.

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Bom final de semana a todos.

Arnaldo Luiz Corrêa

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